quarta-feira, 12 de maio de 2010

O Adeus (Rubem Braga)

No 8º dia,sentiamos que tudo conspirava contra nós. Naquela cidade com seus milhares edificios, o ue importa se um homem e uma mulher estão dentro de um apartamento fechado, se movendo na penumbra como dentro de um sonho?
Entretando a cidade, que parecia ter nos esquecido por alguns instantes, voltara a atacar.
O telefone tocava, a campainha tocava, a porta era batida, calava-se por alguns minutos, olhavamos um para o outro, como se soubessemos o que o outro estava pensando: " Será que agora ficaremos em paz? ", por um momento acreditavamos que sim,no entanto,a campainha e o telefone voltavam a tocar. Como se soubessem que estavamos lá dentro, faziam isso sucessivamente. Ficavamos quietos,abraçados,procurando abrigo um no outro,até que os estranhos voltassem para as suas vidas e nos deixasse em nossa felicidade que fluía num encantamento constante.
Sentia dentro de mim,doce,essa espécie de saturação boa,como um veneno que tonteia,como se meus cabelos já tivessem o cheiro dos seus,como se o cheiro da sua pele já tivesse entrado na minha. Nossos corpos tinham chegado a um entendimento que era além do amor,eles tendiam a se parecer no mesmo repetido jogo lânguido,e uma vez que,sentado,de frente para a janela por onde se filtrava um eco pálido de luz,eu a comtemplava,tão pura e nua,ela disse: " Seus olhos estão mais verdes. "
Nossas palavras baixas eram murmuradas pela mesma voz,nossos gestos eram parecidos e integrados,como se o amor fosse um longo ensaio: movimento que nós, inconscientemente compúnhamos esse jogo de um ritmo imperceptível, como um lento bailado.
Mas naquela manhã ela se sentiu tonta,e eu senti minha fraqueza também; resolvi sair,era preciso para obter víveres. Vesti-me lentamento e perguntei-me: " Que horas seriam? "
Chegando na rua,bateu-me um vago temor,um sol extraordinariamente claro batem eu meus lhos,fiquei um instante parado,olhando aquelas pessoas e veículos que se cruzavam,tive uma tonteira e uma sensação dolorosa no estômago.
Comprei cinco quilos de uvas,voltei carregando o embrulho de encontro ao peito,como se fosse a minha salvação.
Levei alguns minutos na sala com as janelas absurdamente abertas diante de um desconhecido,para compreender que o milagre acabara,alguem viera e batera a porta,e ela abrira pensando que fosse eu,e então já havia também o carteiro,e quando o telefone tocou foi preciso atender,e nosso mundo foi invadido,atravessado,desfeito,perdido para sempre,senti que ela me dissera isso num olha de apelo e de tristeza,onde,apesar de tudo, ainda havia uma inútil,resignada esperança.

Comentario: Me vejo aew /fato. Muitas vezes,as pessoas se metem em algo que nao deveriam e atrapalham,acabando com os sonhos de alguém,roubando-os para si. Cuide mais da sua vida e deixe os outros serem felizes. ^^

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